As escritoras Aline Dias e Carla Guerson esperam os ouvintes da Espírito Santo FM 89.1 esta semana com uma edição especial do programa Marca-Texto. Nesta terça-feira (14), às 20 horas, vai ao ar um bate-papo entre elas e as autoras Bernadette Lyra e Monique Malcher. O tema é “literatura com endereço”, abordando as marcas do território na escrita. 

A conversa foi gravada durante a Festa Literária Internacional Capixaba (Flinc), realizada no último final de semana, e a partir desta quarta estará disponível também no canal da rádio no YouTube (https://www.youtube.com/@EspiritoSantoFM). O ‘Marca-Texto’ vai ao toda terça-feira, às 20 horas, com reprise aos sábados, às 8 horas. 

“Como o território se inscreve na literatura sem ser algo panfletário?”, lança Carla Guerson ao debate, que assina o romance ‘Todo mundo tem mãe, Catarina’. 

As escritoras convidadas convergem ao responder que isso acontece de forma orgânica para o autor que realmente vivencia a própria cidade. Autora de ‘Degola’ e ‘Flor de Gume’, a paraense Monique Malcher conta que em sua escrita a ideia de território surgiu inicialmente de forma inconsciente, mas depois foi sendo trabalhada de maneira consciente. 

“Tento mostrar o território, mas não para gringo ver. Não tenho preocupação, por exemplo, com higienizar o linguajar. Gosto da ideia de não cristalizar a linguagem, pois são várias amazônias. Quando estou escrevendo, há a vontade de mostrar esse território, mas não de purificá-lo. Me perguntam porque escrevo com violência; é porque eu durmo e acordo incomodada. Fui uma criança que dormia e acordava em ocupação. Se isso for panfletário, tudo bem, talvez eu seja, pois escrevo literatura através de um incômodo. Se eu não durmo, escrevo para não deixar ninguém dormir também”, relata. 

Quando criança, nos anos 1990, a autora morou com a mãe em uma ocupação em Manaus, em um momento em que a cidade recebia grande fluxo de imigrantes, atraídos pela zona franca. A ocupação de terras e a injustiça social são temas do livro ‘Degola’. 

Já Bernadette Lyra, autoras títulos como ‘A Capitoa’ e ‘Guananira’ lembrou que o território está marcado em sua literatura não apenas pelas vivências de sua cidade natal, Conceição da Barra, mas também pelo fato de, tendo crescido em uma região isolada, ter uma infância marcada pela solidão, que era aplacada pela quantidade imensa de histórias que lia ou ouvia e que acabaram por despertar nela a paixão pela literatura. “Mas eu não escrevo sobre isso, escrevo sobre humanidade. Tudo que é humano me interessa”, resume. 

Na edição especial do Marca-Texto, as músicas foram substituídas por trechos de obras das quatro escritoras. 

Sobre o programa 

No programa ‘Marca-Texto’, a cada semana Carla Guerson e Aline Dias escolhem uma palavra para, a partir dela, abordar um tema e trazer ao ar músicas, trechos de prosa e poesias. A atração é marcada ainda pela presença de convidados, sejam eles escritores, dramaturgos, pesquisadores ou demais representantes do mundo editorial. Já passaram pelo estúdio nomes como Paulo Sodré, Nieve Matos, Hugo Estanislau, Lilian Menenguci, Ana Laura Nahas e Bernadette Lyra. 

O programa foi lançado em fevereiro. Autora de ‘Suja’ e ‘Bagunça’, entre outras publicações, Aline Dias conta que a receptividade da atração vem sendo muito positiva. “Havia uma carência de espaço para literatura nas mídias convencionais. As pessoas queriam que esse programa acontecesse e isso deixou muita gente feliz”, comenta.  

“É um espaço intelectual, mas não excludente, é democrático. A gente faz questão de falar de maneira simples, para abordar, por meio da literatura, a complexidade do mundo”, ressalta Aline Dias.  

Serviço

Programa ‘Marca-Texto’: Toda terça-feira, às 20 horas, na Espírito Santo FM 89.1, com reprise aos sábados, às 8 horas. 

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