Agroecologia avança em oito municípios capixabas após projeto executado por Incaper e parceiros
Municípios do norte e do noroeste do Espírito Santo vêm experimentando um avanço significativo das práticas e tecnologias agroecológicas na agricultura familiar. Esse movimento foi acelerado pelo projeto “Agroecologia: Multiplicando Saberes, Produzindo Vida”, que nos últimos anos desenvolveu ações para impulsionar a transição agroecológica em Ecoporanga, Nova Venécia, Pinheiros, São Mateus, Montanha, Água Doce do Norte, Boa Esperança, Barra de São Francisco e Ponto Belo, beneficiando 85 famílias diretamente e impactando mais de 200 pessoas de forma indireta.
A iniciativa foi coordenada pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), em parceria com a Fundação de Desenvolvimento e Inovação Agro Socioambiental do Espírito Santo (Fundagres Inovar) e com financiamento do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), por meio do Fundo de Desenvolvimento Econômico, Científico, Tecnológico e de Inovação (Fundeci).
Unidades Demonstrativas: espaços que inspiram
Um dos principais legados do projeto foi a implantação de 15 Unidades Demonstrativas (UDs), criadas como espaços de experimentação, aprendizado e difusão de tecnologias agroecológicas adaptadas à realidade da agricultura familiar.
As UDs abordaram diferentes temas e sistemas produtivos: duas fossas biodigestoras (em Nova Venécia e Ecoporanga), duas unidades de recuperação de nascentes (em Ecoporanga e Pinheiros), duas de produção de biofertilizantes (em São Mateus e Montanha), duas de sistemas agroflorestais (em Barra de São Francisco e Água Doce do Norte), duas unidades experimentais participativas (em Ponto Belo e Montanha), uma de sistema silvipastoril (em Boa Esperança), uma de banco de sementes crioulas (em São Mateus) e três de cultivo protegido com captação de água da chuva (em Nova Venécia e Ponto Belo).
Esses espaços tornaram-se referências regionais em sustentabilidade, recebendo visitas de agricultores, estudantes, escolas e técnicos extensionistas. Cada unidade contou com acompanhamento contínuo do Incaper, com atividades práticas, dias de campo e intercâmbio de experiências entre produtores.
Em São Mateus, por exemplo, o agricultor Francisco Fabem, responsável pela Unidade Demonstrativa de Produção de Biofertilizante, transformou o conhecimento adquirido em benefício coletivo. Ele produz e distribui cerca de 3 mil litros de biofertilizante por ano, utilizados por agricultores do município.
Unidade de biofertilizante em São Mateus Unidade de biofertilizante em São Mateus“Nós estamos usando o biofertilizante na propriedade e está dando certo — no café, no milho, no feijão. A gente bate no solo, por cima, e o resultado é bom. Esse trabalho é para atender o município, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), nossa família e outras pessoas que procuram. Estamos dando continuidade e vendo o resultado aparecer”, conta Francisco Fabem.
Já em Água Doce do Norte, a agricultora Elenice Babeles se tornou exemplo de dedicação e inovação. Em sua Unidade Demonstrativa de Sistemas Agroflorestais, ela implantou uma área diversificada com gliricídia, frutíferas, urucum, pupunha, feijão, abóbora, mandioca, leguminosas e espécies nativas. A experiência envolveu a comunidade local e escolas, fortalecendo o vínculo entre agroecologia e educação.
“As mudas que foram plantadas estão todas bonitas, bem cuidadas, e já começaram a produzir. Com a agroecologia, conseguimos recuperar áreas que estavam degradadas. Esse resultado só foi possível com o apoio do Banco do Nordeste e dos técnicos do Incaper. Agora quero ampliar novas áreas com novas técnicas, aperfeiçoando e melhorando as práticas agroecológicas”, afirma Elenice Babeles.
Formação, educação e redes de saber
Durante os quatro anos de execução, o projeto promoveu dias especiais, oficinas e cursos, somando mais de 100 agricultores capacitados em temas como manejo agroflorestal, compostagem, biofertilizantes, sementes crioulas, pomares sustentáveis e políticas públicas municipais de agroecologia.
Os eventos “Agroecologia na Mesa”, em Nova Venécia, e o “Encontro Territorial sobre Sementes Crioulas e Biofertilizantes”, em São Mateus, se destacaram por aproximar o campo da cidade, conectando produtores, consumidores, escolas e instituições em torno de uma agricultura mais saudável, justa e sustentável.
Ater como base da transformação
O projeto contou com 340 horas de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) para mais de 85 famílias, conduzidas pelo Incaper, com apoio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes) e das Escolas Famílias Agrícolas (EFAs).
As ações abrangeram a elaboração de planos produtivos agroecológicos, o acompanhamento técnico das UDs e a capacitação sobre produção orgânica e certificação participativa.
Esse trabalho resultou na criação da Organização de Controle Social (OCS) de Ecoporanga e no fortalecimento da Cooperativa dos Agricultores Familiares de Nova Venécia, ampliando a comercialização de produtos orgânicos com o acesso dos produtores a políticas públicas e programas de comercialização como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Resultados e legado
Os impactos do projeto são visíveis nas propriedades e na vida das famílias envolvidas. “Tivemos aumento da diversidade produtiva, redução do uso de insumos químicos, melhoria da renda e da segurança alimentar e valorização do conhecimento tradicional. Agricultores e agricultoras relatam ganhos de autonomia, organização social e acesso a novos mercados, consolidando a agroecologia como estratégia de desenvolvimento regional”, destaca a coordenadora do projeto, Andressa Alves.
Ela lembra que as Unidades Demonstrativas continuam ativas e abertas à visitação, inspirando novas experiências agroecológicas em municípios vizinhos.
Um futuro cultivado com sustentabilidade
Mais do que cumprir metas, o projeto “Agroecologia: Multiplicando Saberes, Produzindo Vida” deixou um legado duradouro para o norte capixaba. As práticas implementadas seguem se multiplicando nas comunidades, e as parcerias entre instituições de ensino, pesquisa e extensão continuam fortalecendo novas ações no campo.
“O projeto demonstrou que é possível conciliar produtividade, conservação ambiental e valorização cultural, promovendo um modelo de agricultura familiar inclusivo, sustentável e economicamente viável, que reafirma o compromisso do Incaper e de seus parceiros com o futuro da agroecologia no Espírito Santo”, pontua o extensionista do Incaper, Moisés Marré.
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