11/01/2021 16h59

Incaper lança série de vídeos com resultados da pesquisa sobre café sombreado

Um formato inovador de divulgação de pesquisa científica será lançado pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper). Os resultados da pesquisa sobre o cultivo de café sombreado serão apresentados, neste mês de janeiro, por meio da divulgação de uma série de quatro vídeos pelas redes sociais do Instituto. A pesquisa foi desenvolvida pelo Incaper e por parceiros que compõem a Rede de Estudos Ambientais e Socioeconômicos em Sistemas de Produção Agroecológicos. 

Os estudos foram desenvolvidos, ao longo de três anos, na Fazenda Experimental de Bananal do Norte, do Incaper, em Cachoeiro de Itapemirim. A pesquisa consistiu na avaliação de diversos aspectos da plantação de café consorciada com gliricídia, banana, ingá e pupunha, sendo composta por quatro projetos que avaliaram: a dinâmica da água, a produtividade e análise econômica; análise de qualidade e as árvores com potencial econômico. A comparação do cultivo de café sombreado foi feita entre as quatro culturas e o café sozinho, plantado a pleno sol, de modo tradicional.

A pesquisa foi realizada em rede, com parceria entre o Incaper, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) e a Universidade Vila Velha (UVV), com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) e da Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), por meio do Edital Fapes/Seag PPE Agro 06/2015.

A série com os resultados da pesquisa de café sombreado é composta por quatro vídeos, com média de quatro minutos de duração. O principal objetivo da divulgação dos resultados pelos vídeos é simplificar a linguagem técnico-científica, principalmente para o cafeicultor, de acordo com a pesquisadora do Incaper e coordenadora de um dos projetos da pesquisa, Penha Padovan. “A equipe da pesquisa avaliou que as informações integradas dos quatro projetos seriam de maior utilidade para o público em geral pelo formato em vídeo, especialmente, para os agricultores interessados na adoção do sistema agroflorestal, frisou.  

O biólogo do Incaper e responsável pela produção dos vídeos, Almir Bressan, destacou que um dos principais objetivos é divulgar os resultados, de maneira que o conteúdo chegue ao cafeicultor com uma linguagem acessível. “Era um desafio para nós divulgar o resultado de uma pesquisa ao público final que são os agricultores. Por isso, pensamos em estratégias para apresentar o conteúdo científico de maneira simplificada e objetiva. Encontramos nos vídeos essa solução que pode ser compartilhada nos canais digitais com maior facilidade”.

O primeiro vídeo da série trata da dinâmica da água em café sombreado, seguido pelo resultado sobre a produtividade e análise econômica do sistema agroflorestal. O terceiro vídeo aborda a qualidade do café cultivado com as culturas em análise. A série é finalizada com o vídeo que destaca a potencialidade econômica das árvores utilizadas no sombreamento do café. 

Confira abaixo alguns destaques sobre os resultados da pesquisa que indicam como plantar café sombreado e os benefícios dessa técnica.

Dinâmica da água 

Em cafés cultivados com árvores, a dinâmica da água é influenciada tanto pelos cafeeiros quanto pelas outras culturas. Os estudos das condições ambientais em sistemas agroflorestais estimaram a quantidade de chuva interceptada pela copa das árvores de gliricídia, ingá e bananeira, utilizadas no sombreamento do café.

Foram identificados diferentes aspectos relacionados à distribuição da água da chuva, de acordo com as espécies de árvores, conforme descreveu Penha Padovan, que é doutora em Sistemas Agroflorestais. “A pesquisa mostrou que a arquitetura das plantas, as características das folhas e o manejo podem influenciar nos sistemas de sombreamento do café. Vimos que a água da chuva pode tomar diferentes caminhos e o que queremos é diminuir as perdas nesse processo, deixando mais água disponível para o café”, explicou.

De acordo com o pesquisador do Incaper, Renato Taques, o estudo comparativo do teor de umidade do solo no sistema de café sombreado com as árvores de gliricídia, bananeira, ingá e a pleno sol demonstrou uma diferença significativa entre os cultivos.

“Observamos que o teor de umidade varia de acordo com a espécie utilizada no sombreamento. No estudo, a gliricídia apresentou a maior conservação de água no solo, seguida do ingá e da banana. A pesquisa indica também que o café sombreado pode conservar mais água no solo. Em uma situação de estiagem, o desempenho do café sombreado seria melhor do que o café em pleno sol, uma vez que o teor de umidade do solo é um fator fundamental para a qualidade e produtividade do café”, afirmou Taques. 

Produtividade e análise econômica 

A pesquisa avaliou a produtividade e analisou economicamente o cultivo agroflorestal dos cafés sombreados com gliricídia, banana, ingá e pupunha. Foi indicado que a produtividade do café pode ser influenciada pela espécie de árvore utilizada no sombreamento, como explicou o coordenador do projeto e pesquisador do Incaper, João Araújo. 

"Os cafés com bananeira e gliricídia não se diferenciam do café solteiro e apresentaram produtividades iguais. Já o café com pupunha e com ingá produziram 32% a mais que o café solteiro, indicando que a pupunha e a árvore de ingá são plantas companheiras para o café nessa situação de cultivo do cafeeiro conilon não irrigado", descreveu Araújo.

O cultivo de café sombreado ajuda a diversificar a produção nas propriedades agrícolas. Além disso, as sombras das árvores associadas a café ajudam a diminuir o mato nas entrelinhas, reduzindo a necessidade de mão de obra para capina e minimizando, assim, os custos de produção. Outro ponto relevante destacado na pesquisa é que as sombras das árvores oferecem maior conforto térmico para o produtor rural.

Análise de qualidade

Um dos projetos da pesquisa, coordenado pelo professor do Ifes, Wanderson Romão, realizou a análise da qualidade do café cultivado a pleno sol, comparado ao cultivo sombreado. A pesquisa utilizou equipamentos de ponta para análise dos cafés, cujos resultados foram comparados com a metodologia de análise sensorial padrão, realizada por degustadores de café. 

As amostras de café consorciadas com gliricídia obtiveram as notas mais elevadas e os melhores resultados. Todas as amostras foram caracterizadas quimicamente pelas técnicas analíticas utilizadas. Os cafés cultivados a pleno sol, de modo tradicional, foram os que obtiveram as menores notas de qualidade. A incidência direta da radiação solar faz com que haja uma maior temperatura no ambiente, o que afeta tanto a maturação quanto a frutificação dos grãos, além da qualidade.

Árvores com potencial econômico 

As culturas associadas no plantio de café sombreado podem contribuir economicamente, gerando uma alternativa de renda para o agricultor, como indicou um dos projetos da pesquisa. O cultivo de café sombreado também apresenta uma alternativa para diminuir as perdas na produção em tempos de secas prolongadas e altas temperaturas.

A produção de café consorciada gera madeira, frutos, óleos, resinas e outros produtos que oferecem maior valor agregado e podem ser comercializados. A pesquisa sobre espécies arbóreas para composição de café sombreado, coordenada pela professora da UVV, Denise Endringer, avaliou, ainda, a gliricídia como fonte de produtos bioativos, que podem ser utilizados na composição de cosméticos.

A série de vídeos sobre café sombreado será divulgada, ao longo do mês de janeiro e fevereiro, nos canais do Incaper no Instagram, Facebook e YouTube. Os cafeicultores interessados em plantar café sombreado podem buscar auxílio técnico nas unidades do Incaper.

Texto: Andreia Ferreira

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